“Não é nada pessoal”, quem nunca ouviu essa frase?
Muito comum em vários momentos da nossa vida, principalmente quando se tenta
justificar mostrando a alguém que tomou uma decisão imparcial, sem visar os
próprios interesses.
O mesmo acontece no meio organizacional, um fator
peculiar do comportamento dos integrantes de uma corporação principalmente no
processo de tomada de decisão de seus gestores, são os aspectos psíquicos de
um indivíduo.
Festinger retrata a parte cognitiva de uma
pessoa como sendo a carga emocional, como valores, conhecimento, opinião sobre
si mesmo e outros, ou mesmo sobre a própria situação. E em vários momentos as
decisões a serem tomadas podem fazer com que o gestor questione até que ponto é
aceitável ou confortável para si, optar por determinada decisão, baseado em
suas emoções.
Colocamos então uma situação em análise: você é um
gestor de uma grande empresa e recebeu uma proposta financeiramente vantajosa,
superfaturar alguns contratos, ninguém vai descobrir segundo o proponente, mas
você é contra qualquer tipo de movimentação ilícita. Como reagir?
Quando uma decisão a ser tomada vai contra seus
princípios o indivíduo sai da sua zona de conforto, e para solucionar esse
atrito interno, ele pode mudar a sua ação para compatibilizar com aquilo que
acredita e se sentir emocionalmente bem novamente. No nosso exemplo, o gestor
poderia optar por não aceitar o acordo e assim não iria ferir sua consciência.
Pode também apenas justificar sua atitude por mais
contrária que seja em relação as suas crenças a fim de tornar possível uma
“exceção” sem que altere seus princípios. Nesse caso talvez ele diga: “mas é
para o bem estar financeiro da empresa, não há nada de mal nisso” ou
ainda “só estou fazendo isso porque é uma emergência”. Ou ainda pode de
fato alterar suas crenças baseadas numa nova perspectiva, principalmente quando
se toma uma decisão contrária ao que se acredita e o resultado é satisfatório.
Caso isso aconteça, talvez o gestor faça daquela movimentação um hábito, por
ver que nada deu errado e que conseguiu o lucro esperado sem prejuízos legais.
Mas nem sempre o exemplo é tão fictício, prova
disso é o questionamento feito naCPI do senado, onde a Petrobrás estaria superfaturando os valores gastos na
obra de construção da refinaria de Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. Segundo a alegação, o contrato de
custos estaria cerca de 16,1 bilhões de dólares mais caro do que a projeção
inicial. Como o caso ainda esta sob investigação não pode ser tomado como fato,
mas nos faz refletir sobre como um processo psicológico pode levar um gestor a
fazer algo assim.
Mas a complexidade da mente humana vai além,observamos bem isso no experimento que Herbert Simon fez com enxadristas,inicialmente quando apresenta por alguns segundos, um tabuleiro com uma partida já em andamento a um inexperiente e a um mestre,o mestre consegue reproduzir com facilidade os movimentos,enquanto o inexperiente consegue reproduzir alguns,significa isso que nossa mente vai nos proporcionar ações mediante apenas a nossa memoria? Não. A experiência segue e numa nova apresentação também por alguns segundo, o tabuleiro agora esta com as peças aleatórias e desta vez o desempenho de ambos foi similar.
Em geral, o mesmo acontece com os gestores, que
podem optar uma por uma decisão rapidamente, sem ter consciência da lógica que
usou para chegar àquela conclusão, criando ações intuitivas ou instintivas. Que
por sua vez geram valores, experiências e novas cargas emocionais para os
indivíduos, que em outras ocasiões poderão seguir os mesmos passos afim de
terem uma satisfação emocional em não contrariarem seus princípios na tomada de
uma nova decisão e não entrarem novamente em uma situação de desconforto.
Entende-se então que ainda que qualquer movimento
de um indivíduo numa organização possa usar informações lógicas ou dados,
inconscientemente ele está na verdade tomando a decisão que melhor agrada a sua
consciência.
Como os aspectos emocionais afetaria a gestão de
pessoas? Devo me preocupar com isso?
Quando se fala em empresas menores o questionamento
é ainda mais válido, afinal provavelmente será o próprio contratante a tratar
de qualquer alteração no quadro de funcionários, e isso em geral causa grande
desconforto. Não é raro identificarmos que tem sempre alguém tentando agradar o
seu gestor a fim de permanecer com seu cargo garantido ou mesmo para conseguir
uma promoção. Segundo os estudos de Festinger, March
e Cyert, são parcialmente influenciados por experiências passadas, então por
mais imparcial e impessoal que esse gestor tente ser, vez por outra ele
utilizará de critérios baseados nessa carga que ele já possui.
Exemplo disso é quando um gestor opta por demitir um
funcionário, com que justificativas se optou por isso? Talvez simplesmente a
empresa não tenha rentabilidade para manter tantos no quadro de ativos, ou
mesmo porque o funcionário tenha apresentado comportamento inadequado que em um
caso anterior e similar gerou problemas para a empresa, ou ainda porque um
antigo funcionário tinha atitudes semelhantes e descobriu-se que não era ele
confiável. Ou seja, baseou-se nesses casos em experiências que já teve
anteriormente.
Seja como for, por mais teorias que se desenvolvam,
e por mais conclusões que se tente chegar a cerca da capacidade humana de
tentar distinguir os aspectos unicamente profissionais de suas cargas pessoais,
um faz parte do outro, direta ou indiretamente, pois não há gestão sem pessoas.
E como parte do estudo sobre o homo socialis e homo complexus, precisamos conviver, mas nem tudo é sempre satisfatório, temos pontos
de vista e experiências diferentes, mas a partir do momento que fazemos parte
de uma única organização temos que aprender sobre nós mesmo e nos compreender,
para que possamos compreender melhor a mente dos outros no meio institucional.
Pois somos gestores, de nós mesmos e
de outros, tomadores de decisão, seres complexos que tentam buscar uma lógica à
medida que aprendem a conviver, mas acima de tudo somos humanos
.
E então, da próxima vez que ouvir “não foi nada
pessoal” já sabe o que pensar?
Autora: Cínthia Cláudia
Bom texto... relacionar os aspectos emocionais, com o ambiente organizacional gera um debate bastante construtivo!!!
ResponderExcluirÉ uma reflexão importante a ser feita! Aspectos emocionais e organizacionais devem ser devidamente conciliados, por mais difícil que seja!
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