sábado, 5 de julho de 2014

Aspectos cognitivos e emocionais X Gestão de empresas

“Não é nada pessoal”, quem nunca ouviu essa frase? Muito comum em vários momentos da nossa vida, principalmente quando se tenta justificar mostrando a alguém que tomou uma decisão imparcial, sem visar os próprios interesses.

O mesmo acontece no meio organizacional, um fator peculiar do comportamento dos integrantes de uma corporação principalmente no processo de tomada de decisão de seus gestores, são os aspectos psíquicos de um indivíduo.


 Festinger retrata a parte cognitiva de uma pessoa como sendo a carga emocional, como valores, conhecimento, opinião sobre si mesmo e outros, ou mesmo sobre a própria situação. E em vários momentos as decisões a serem tomadas podem fazer com que o gestor questione até que ponto é aceitável ou confortável para si, optar por determinada decisão, baseado em suas emoções.

Colocamos então uma situação em análise: você é um gestor de uma grande empresa e recebeu uma proposta financeiramente vantajosa, superfaturar alguns contratos, ninguém vai descobrir segundo o proponente, mas você é contra qualquer tipo de movimentação ilícita. Como reagir?

Quando uma decisão a ser tomada vai contra seus princípios o indivíduo sai da sua zona de conforto, e para solucionar esse atrito interno, ele pode mudar a sua ação para compatibilizar com aquilo que acredita e se sentir emocionalmente bem novamente. No nosso exemplo, o gestor poderia optar por não aceitar o acordo e assim não iria ferir sua consciência.

Pode também apenas justificar sua atitude por mais contrária que seja em relação as suas crenças a fim de tornar possível uma “exceção” sem que altere seus princípios. Nesse caso talvez ele diga: “mas é para o bem estar financeiro da empresa, não há nada  de mal nisso” ou ainda “só estou fazendo isso porque é uma emergência”. Ou ainda pode de fato alterar suas crenças baseadas numa nova perspectiva, principalmente quando se toma uma decisão contrária ao que se acredita e o resultado é satisfatório. Caso isso aconteça, talvez o gestor faça daquela movimentação um hábito, por ver que nada deu errado e que conseguiu o lucro esperado sem prejuízos legais.

Mas nem sempre o exemplo é tão fictício, prova disso é o questionamento feito naCPI do senado, onde a Petrobrás estaria superfaturando os valores gastos na obra de construção da refinaria de Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. Segundo a alegação, o contrato de custos estaria cerca de 16,1 bilhões de dólares mais caro do que a projeção inicial. Como o caso ainda esta sob investigação não pode ser tomado como fato, mas nos faz refletir sobre como um processo psicológico pode levar um gestor a fazer algo assim. 


Mas a complexidade da mente humana vai além,observamos bem isso no experimento que Herbert Simon fez com enxadristas,inicialmente quando apresenta por alguns segundos, um tabuleiro com uma partida já em andamento a um inexperiente e a um mestre,o mestre consegue reproduzir com facilidade os movimentos,enquanto o inexperiente consegue reproduzir alguns,significa isso que nossa mente vai nos proporcionar ações mediante apenas a nossa memoria? Não. A experiência segue e numa nova apresentação também por alguns segundo, o tabuleiro agora esta com as peças aleatórias e desta vez o desempenho de ambos foi similar.

Em geral, o mesmo acontece com os gestores, que podem optar uma por uma decisão rapidamente, sem ter consciência da lógica que usou para chegar àquela conclusão, criando ações intuitivas ou instintivas. Que por sua vez geram valores, experiências e novas cargas emocionais para os indivíduos, que em outras ocasiões poderão seguir os mesmos passos afim de terem uma satisfação emocional em não contrariarem seus princípios na tomada de uma nova decisão e não entrarem novamente em uma situação de desconforto.

Entende-se então que ainda que qualquer movimento de um indivíduo numa organização possa usar informações lógicas ou dados, inconscientemente ele está na verdade tomando a decisão que melhor agrada a sua consciência.

Como os aspectos emocionais afetaria a gestão de pessoas? Devo me preocupar com isso?

Quando se fala em empresas menores o questionamento é ainda mais válido, afinal provavelmente será o próprio contratante a tratar de qualquer alteração no quadro de funcionários, e isso em geral causa grande desconforto. Não é raro identificarmos que tem sempre alguém tentando agradar o seu gestor a fim de permanecer com seu cargo garantido ou mesmo para conseguir uma promoção. Segundo os estudos de Festinger, March e Cyert, são parcialmente influenciados por experiências passadas, então por mais imparcial e impessoal que esse gestor tente ser, vez por outra ele utilizará de critérios baseados nessa carga que ele já possui. 

Exemplo disso é quando um gestor opta por demitir um funcionário, com que justificativas se optou por isso? Talvez simplesmente a empresa não tenha rentabilidade para manter tantos no quadro de ativos, ou mesmo porque o funcionário tenha apresentado comportamento inadequado que em um caso anterior e similar gerou problemas para a empresa, ou ainda porque um antigo funcionário tinha atitudes semelhantes e descobriu-se que não era ele confiável. Ou seja, baseou-se nesses casos em experiências que já teve anteriormente.

Seja como for, por mais teorias que se desenvolvam, e por mais conclusões que se tente chegar a cerca da capacidade humana de tentar distinguir os aspectos unicamente profissionais de suas cargas pessoais, um faz parte do outro, direta ou indiretamente, pois não há gestão sem pessoas.

E como parte do estudo sobre o homo socialis e homo complexus, precisamos conviver, mas nem tudo é sempre satisfatório, temos pontos de vista e experiências diferentes, mas a partir do momento que fazemos parte de uma única organização temos que aprender sobre nós mesmo e nos compreender, para que possamos compreender melhor a mente dos outros no meio institucional.

    Pois somos gestores, de nós mesmos e de outros, tomadores de decisão, seres complexos que tentam buscar uma lógica à medida que aprendem a conviver, mas acima de tudo somos humanos
.
E então, da próxima vez que ouvir “não foi nada pessoal” já sabe o que pensar?


Autora: Cínthia Cláudia





2 comentários:

  1. Bom texto... relacionar os aspectos emocionais, com o ambiente organizacional gera um debate bastante construtivo!!!

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  2. É uma reflexão importante a ser feita! Aspectos emocionais e organizacionais devem ser devidamente conciliados, por mais difícil que seja!

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