sexta-feira, 9 de maio de 2014

Natureza humana e a alienação

 A constituição histórica da natureza humana ocorre a partir das necessidades humanas, ou seja, para sobreviver todo ser humano precisa satisfazer suas necessidades básicas, como: comer, beber, dormir etc. e o meio para a realização dessas necessidades é o trabalho e a cooperação, tornando o trabalho uma necessidade.

 O trabalho pode ser visto como um ato que o homem executa visando transformar conscientemente a natureza, produzindo riquezas que é necessário em todos os modos de produção, e o que muda é a forma de produção, a tecnologia utilizada, quem produz e o apropriado do que foi produzido, que varia de acordo com a forma de organização da sociedade.

 Um grande companheiro de Karl Marx, Friedrich Engels afirmava que o homem modificava sua relação com a natureza devido ao trabalho. Se na condição animal ele tinha de submeter-se às leis da natureza, através do trabalho ele busca dominar a natureza, transforma-a em proveito próprio. Passa de “ser” dominado a “ser” dominante devido ao desenvolvimento do trabalho.

Com o surgimento da luta de classes, onde há um conflito entre a classe burguesa que controla a produção e o proletariado que fornece a mão de obra, nasce também a alienação, que está totalmente ligada com o ser humano e o trabalho.

Mas o que é alienação? Segundo Karl Marx a alienação é a condição onde o trabalho ao invés de ser instrumento para a realização plena do homem e da sua condição humana torna-se, pelo contrário, um instrumento de escravização, acabando por desumanizá-lo, tendo sua vida e seu próprio valor medidos pelo seu poder de acumular e possuir.

Para Marx, o único bem que o trabalhador possui devido a não ser proprietário de meios de produção é a sua força de trabalho, ou seja, a sua capacidade de trabalhar, por isso, o trabalhador é obrigado a vender sua força de trabalho ao capitalismo. Ao contrário de sociedades pré-capitalistas como o feudalismo e a escravidão, no capitalismo o trabalhador entrega sua capacidade de trabalhar por um tempo determinado através de um contrato de trabalho.

No filme Tempos Modernos onde Charles Chaplin interpreta o personagem Carlitos, é retratado muito bem o conceito de alienação, onde ele se depara com a esteira de produção fordista que aumenta o ritmo de produção a todo instante, tornando a relação homem-máquina extremamente conflituosa e onde ele exerce sua função de apertar parafusos a uma velocidade que não permite nem que ele se coce, literalmente, sem que haja quebra no ritmo de trabalho dos companheiros. Carlitos acaba sofrendo um colapso nervoso sendo levado ao hospital por causa desse emprego altamente alienante a um ritmo alucinado de produção.


 

 A escola clássica, citada no post anterior, enfatiza os métodos de trabalho e podemos citar os processos de Fordista e Taylorista como exemplos de alienação.

 O Fordismo criado por Henry Ford, que foi o responsável pelo início do raciocínio de produção em série e que também foi destacado no filme: Tempos Modernos, é considerado um exemplo de alienação, pois trata de uma forma de racionalização da produção capitalista baseada em inovações técnicas tendo em vista a produção e o consumo em massa.

Ford criou o mercado em massa dos automóveis, em que os veículos eram montados em esteiras rolantes que se movimentavam enquanto o operário ficava parado executando sua função singular durante horas. Seu objetivo era baratear o custo final do produto para que uma gama maior de pessoas tivesse condições de adquiri-lo.

 Antes do Fordismo, o norte americano Frederick Winslow Taylor desenvolveu métodos inovadores para a produção industrial que ficaram mundialmente conhecidos por Taylorismo. Taylor dizia que o proletário deveria focar em sua parcela do processo produtivo e desempenhá-la no menor tempo possível, não precisando ter conhecimento do todo produzido, além do empregado ter de evitar gastos desnecessários de energia.
  
Ao passar do tempo os conceitos e modelos de Taylor e Ford foram se popularizando e assim aumentando a demanda por mercados consumidores, matéria prima e mão de obra que até metade do século XX influenciaram o processo de industrialização em várias partes do mundo.

Até mesmo durante a idade média temos um exemplo de alienação, como a religião que alienava as pessoas com uma doutrina rígida no qual quem detinha um pensamento diferente ao da igreja era amaldiçoado a ficar eternamente no inferno. Com uma evolução do termo, se podemos assim dizer, a alienação continua predominante na atualidade, mas substituída por formas mais flexíveis de produção e trabalho, como rádio, televisão e cinema que conduzem o povo a construir desejos dos dominantes. O governo e a mídia são os principais agentes na alienação hoje em dia.

Mas será que existe uma forma de “desalienação”?
Bom, para Hegel, um filósofo alemão, sim. Ele acreditava que a “desalienação” era possível e necessária, para ele o ser deveria fazer a passagem da consciência em si à consciência para si, com o real retomando sua unidade perdida e assim superar e restabelecer sua unidade. Mas essa é uma visão muito dialética e hoje em dia todo mundo sabe que é difícil escapar da alienação, pois estamos rodeados por ela, tanto nos trabalhos atuais, como no consumo e no lazer.

 Outra questão que se insere no quadro de alienação, mas com menor relevância é o suicídio, pois para alguns autores ele é considerado como autonomia porque é um fenômeno consciente e individual e não como alienação, mas ora, o suicídio é causado por uma desordem mental, alterações nas condições sociais de vida que transformam as atitudes de alguns indivíduos perante o mundo, alterações essas talvez originadas pela alienação.


 Para a alienação existem várias definições, termos e tipos que se estendem por todos os lados. É também considerada um mal na sociedade contemporânea, pois o ser humano não mais se reconhece naquilo que faz e produz. Devemos portanto, dar certa importância ao tema e fazer uma pequena reflexão acerca de nossos atos e sobre os fins das ações humanas não só no trabalho, mas no lazer, no consumo e até nas relações afetivas para que se possa observar se estão a serviço do ser humano ou da sua alienação.



Autoria: Angélica Santos

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